sábado, 1 de setembro de 2012

Adeus (Ilha) Paraíso!


Hoje foi o último dia no "Paraíso"... E julgo que ainda não vos contei, como é este Paraíso constituído, pois não? Ora bem, aqui vai:
. mais de 30 quartos ao relento e alguns com resguardo para Inverno
. estufas com muitas hortas
. páteos para descansar, ler um livro, brincar, para as galinhas passearem
. hortas
. zona das cabras (são 22 cabras no total)
. zonas da vaca e da mula
. galinhas e 1 pato que dormem nas árvores e andam soltos por toda a quinta
. cavalo emprestado, que está num outro espaço, por isso, não tive o prazer de o conhecer
. uma casa com divisões específicas para cada coisa: fazer queijo, fazer azeite, fazer almoço, sala da música, sala da brincadeira, escritório, sala dos lavores. 
. piscina insuflável
. zonas de arrumação          
. roulote para crianças aprenderem e brincarem
. casa da lenha
. oficinas
. palco para a banda e mesas para refeições
. 1 casa para alugar, a 400 metros da quinta, onde tem todas as divisões de uma casa, incluindo casa-de-banho e cozinha! Por isso, se lá quiserem ir e ficar na zona mais "civilizada", já sabem que também podem! :)

Hoje era dia de discoteca ao ar livre, mas como me vim embora depois do almoço, não aproveitei essa actividade. Contudo, as crianças disseram ao patriarca da família que gostavam que eu desse uma voltinha do jeep lá da quinta. E claro, disseram a ele, porque eu não percebo nada de alemão e elas só falam alemão! E assim foi, um dos filhos mais velho, pôs pés a fundo no acelerador e lá fomos nós dar uma voltinha à "volta" da ilha. Um jeep com 0 kms de andamento, hém? Ahahahaha... Chegámos à velocidade dos 40 km/h numa zona verdadeiramente de cabras, o que nos levou a ter altos e baixos e a dar gargalhadas de alegria e suspiros no coração. A pequenada... riu-se tanto... tão divertida!!! Tão contente... bem, foi uma despedida em grande. Para recordação, tirámos esta foto do post de hoje e também trouxe um colar tibetano que estava no meu quarto pendurado por lá. Pedi à família, se podia trazer um, pois eles tinham 4 e não lhes davam uso. Achei que gostava de ficar com um para recordação! :)

E foi assim... o "paraíso" acabou por agora! http://www.youtube.com/watch?v=Rbm6GXllBiw


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Dia-a-dia com luar


A rotina aqui na Ilha Paraíso é mais ou menos isto que abaixo descrevo:

7h30 – Acordar, com o sol ou com os cócórócócós dos imensos galos que por aqui vivem
8h – Apanhar comida para a vaca e para a mula: geralmente são ervas daninhas, cactos secos ou ramos de árvores muito altas.
9h – Pequeno-almoço: Geralmente como uma fruta ou um sumo de frutas variadas (como por ex. maçãs, pêras, uvas e figos da Índia) que dá energia para a manhã toda. Se tiver fome é só apanhar alguma fruta da que está espalhada pela quinta, tal como, figos, pêras, maçãs, etc.
9h30 – Trabalho da manhã. Eu geralmente ajudo nalguma tarefa, contudo os elementos da família distribuem-se por: fazer o queijo, ordenhar a vaca, ordenhar as cabras, passear as cabras, fazer alimentos fermentados ou secos ao sol, cuidar da horta ou fazer alguma manutenção da quinta.
12h – Preparação do almoço, geralmente feita pelos dois filhos mais velhos
13h – Almoço crudívoro. O almoço tem 3 rituais muito interessantes: primeiro o patriarca chama o pessoal dando uns batuques nuns tambores que estão no palco (sim, há um palco com muitos instrumentos, atrás da mesa principal das refeições, onde geralmente se fazem os concertos e as discotecas de sábado). Em segundo lugar, depois de todos estarem sentados, o patriarca escolhe uma música do livro de cânticos da Igreja Católica e toca a melodia na sua viola, sendo acompanhada pela voz de todos (excepto a minha, que não consigo ler nada bem o alemão). Em terceiro lugar, todos damos as mãos e damos graças pela comida que temos, numa frase de Graças a Deus, em Alemão, que ainda não decorei, mas sei que tem a palavra “Danke”, que quer dizer “obrigado/grato”. Geralmente a comida, sendo toda crua é constituída por: salada ralada de batata e queijo fresco, pepinos às rodelas com queijo fresco, couve picada com tomate e manjericão, salada de tomate com especiarias, cacto cortado às fatias, queijo ralado, queijo curado, cenoura e maçã raladas, amoras moídas e sopa fria à base de tomate. Quem quiser pode acompanhar com uma gema crua, pão feito de cereais seco ao sol ou legumes fermentados, que podem ser malaguetas, cogumelos ou azeitonas.
14h – Descanso. Aproveito também para editar o meu blog e responder aos meus emails, utilizando a internet da quinta.
16h/16h30 – Trabalho da tarde.
19h30 – Jantar crudívoro. Geralmente ao jantar, come-se o que sobrou do almoço ou então, tal como eu, come-se apenas fruta. Costumo comer figos da Índia, melão e melância. Pois, com este calor é o que sabe bem e assim aproveito para emagrecer os ditos kilitos que preciso.
20h30 – Descanso. Eu aproveito para escrever o meu blog, sem acesso à net, mas com o uso da bateria do meu computador, no sossego do meu carro, com a luz da lua! E depois durmo a minha soneca de beleza.

E são assim os dias da Ilha Paraíso... Todos os dias são iguais, excepto o sábado, em que fazem uma discoteca ao ar livre, com música dos anos 70/80 e a 6ª feira de manhã em que se vai ao mercado vender. Esta família apesar de ser quase sustentável e auto-suficiente, (uma vez, que não usa gás, a electricidade é feita através de painéis solares e a água é captada através de um poço, sendo a água potável trazida de uma nascente aqui perto, onde se vai buscar 10 litros de água diariamente de bicicleta) precisa de algum rendimento para pequenas coisas que sejam precisas comprar, tais como: alguns cereais para as cabras e galinhas ou o cardo para fazer os queijos. Assim sendo, a forma de sustento desta família é através da venda de alguns legumes, frutas, alimentos fermentados, galos ou galinhas, cabras ou queijo, no mercado semanal, aqui da zona. Além desta forma de rendimento, um dos filhos, também arranja todo o tipo de maquinaria, incluindo carros! É assim a vida... simples... e natural! Dia-a-dia...

Hoje as minhas tarefas foram acabar o documento traduzido para português, intitulado: “Comer e viver naturalmente: As setes regras para viver na natureza e outras regras para (sobre)viver!” Neste documento aprendi sobre como se podia re-naturalizar Portugal, a importância do casamento e da família, como se pode fazer um governo natural na Idade do Ouro, as receitas crudívoras que tenho comido, receitas caseiras para lavar o corpo e os cabelos, ou a forma de fazer a higiene em casa sem detergentes, ou até mesmo, dicas para que as nossas cidades fiquem mais equilibradas com a natureza. Se quiserem saber mais é só enviarem-me um email a pedir o dito documento ou então lerem o blog do Reinhold, o patriarca desta família, que tem estes pensamentos.

Por hoje é tudo, estou no sossego do meu carro, com a minha cadela, a esperar que a Lua Azul, prevista para hoje esteja no alto do céu e enviar para ela os meus desejos e sonhos... Bem, nem sei se peço desejos... porque tem de se ter muito cuidado com o que se sonha, não vá realizar-se e não ser bem isso que se precisa! Pensando melhor, é melhor que fique nas mãos do destino, os meus sonhos... assim, sempre sou supreendida (pela positiva, claro)! Bons sonhos............. Boa lua... azul... Believe! J

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

7 regras e 22 cabras


(continuação do dia anterior) Dormir no carro foi absolutamente surreal... apesar do meu carro ter espaço suficiente, o facto de ter dormido sem colchão foi sem dúvida super incomodativo, mas pelo menos não tive visitas inesperadas. Hoje sem dúvida vou colocar o colchão e dormir de forma cómoda, mas apesar de tudo, com pouco oxigénio.

Na sequência do que vos disse ontem, as minhas tarefas aqui a partir de ontem, é na ajuda da tradução (com o meu amigo google translate, claro) num documento que o patriarca da família escreveu sobre este modo de vida e que sem dúvida, vos poderei disponibilizar, caso tenham interesse, pois foi o seu pedido.

Assim sendo, tal como ontem vos disse, vou enumerar as sete regras para viver na natureza, segundo a família da Ilha Paraíso e são elas:
  • 1.       Viver ao ar livre (dormir ao ar livre, sendo que os casais devem dormir numa zona em forma de coração, as crianças numa forma de círculo e os animais em formas de quadrados)
  • 2.       Comida natural (totalmente crua, pois a comida cozinhada está morta e não faz bem à saúde)
  • 3.       Trabalhar na natureza com as mãos (não usar equipamentos ou electrodomésticos que necessitem de electricidade ou petróleo ou outra fonte de energia. Apenas e só, a energia manual)
  • 4.       Educação natural (as crianças deverão aprender em casa e não na escola, com a natureza e através da Arte, Música, Religião)
  • 5.       Lida de casa natural (o cuidado do corpo e dos cabelos deverá ser sempre feita com produtos naturais)
  • 6.       Cura natural (não utilizar nenhum tipo de medicamento, apenas e só plantas naturais)
  • 7.       Nascimento e morte naturais (o nascimento deve ser feito em casa, sem a ajuda de médicos e/ou químicos)

E pronto, se quiser saber isto e muito mais, nomeadamente todas as receitas crudívoras que tenho vindo a comer durante esta semana, é só me enviarem um email para vos enviar o documento em português. Também podem contactar com o Reinhold Schweikert através do seu blog  http://paradiseislandfamily.wordpress.com/. Se quiserem vir viver para aqui uns tempos, é só falarem com ele. Ele tem um sonho de ter mais pessoas a viver aqui numa tribo, para fazer desta quinta um exemplo de ecologia no nosso país. Aliás, já tem quartos espalhados por toda a quinta à espera de visitantes e possíveis moradores, pois o seu sonho era fazer uma tribo da Ilha Paraíso, que se pudesse copiar por todo o Portugal. Quem está interessado, hém?

Além da ajuda na tradução deste documento, da parte da manhã fiz três actividades: vi como se faz queijo, vi como se tira o leite às cabras e acompanhei um dos filhos, que é pastor, no passeio das cabras. O queijo aqui é feito com cardos e somente com o leite da cabra e da vaca. Todos os dias são feitos 3 queijos, que são usados no dia seguinte como queijo fresco nas refeições e depois, com o passar do tempo são comidos como queijo já curado e posteriormente como queijo ralado. Uma das divisões da casa é somente para se fazer o queijo...

Depois fui ver, as 3 filhas mais velhas a ordenar as cabras. Na quinta há 22 cabras e são todas muito lindas! Não têm badalos, nem ferraduras, nem brinco na orelha. Comem as ervinhas dos montes e andam felizes e contentes. São umas cabrinhas mesmo biológicas. Foi muito engraçado o passeio que fiz com o filho mais velho, que é o pastor aqui da quinta. Todos os dias passeia as cabrinhas duas vezes: da parte da manhã durante 2 horas e à tarde, 3 horas. Eu acompanhei-o da parte da manhã e andámos sensivelmente 4 kilómetros. Foi um caminho que se fez muito bem, porque apesar de fazer umas festinhas às cabrinhas, conheci melhor o pastor e percebi os seus gostos e a sua filosofia de vida. Aprendi muito com ele. Disse-me duas coisas muito interessantes que passo a citar: “Eu gosto de todas as pessoas, porque se Deus gosta de todas, eu também tenho de gostar. Não há pessoas más, elas apenas estão doentes.” “Eu gosto de tudo o que faço. Faço tudo com gosto, porque assim tem de ser.” Fiquei a pensar como estas duas frases resumem de forma simples, verdades, que nem sempre estamos preparados para aceitar. Gostei muito de o ouvir. Falámos de música, de poesia, de ópera e quando lhe perguntei qual era a sua música favorita, escreveu-me num papel o seguinte nome: Maria Hellwing: Ersherzog johann-jodler... e Voilá, procurei no Youtube e aqui vai para vocês! 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Com ou sem oxigénio?


Mais uma noite que dormi ao relento e hoje sim, descansei. A minha cadela não ladrou uma única vez, pelo que esteve assegurado que nenhum bicho se aproximou do meu quarto. Comecei a perceber melhor esta “coisa” de dormir ao relento e é bem bom. O ar corre-nos na face, ouve-se o vento, os pássaros e os galos pela manhã como se de “stereo” se tratasse. Comecei a perceber o bom que é oxigenar os pulmões sempre com ar diferente e não sempre o mesmo ar dentro do mesmo quarto, uma vez que foi desta forma que o patriarca desta família me explicou a vantagem do “dormir ao relento”. Tudo correria bem e eu dormiria ao relento até ao fim da minha estadia aqui, não fosse um pequeno pormenor que me aconteceu no final do dia de hoje. Mas já lá vamos. Agora vamos ao desenrolar do dia, sim?

De manhã, como ontem e como “tradição”, dá-se de comer à vaca. Novamente fui ajudar a cortar as plantas para o alimento da vaca e da mula. Cortou-se também alguns cactos, de nome Opúncia, os tais, de onde se tiram os figos da Índia (os roxos) e outros amarelos que não sei o nome. (ver mais em http://en.wikipedia.org/wiki/Opuntia) Das folhas dos cactos há mais de 200 utilizações, contudo aqui na quinta em todas as refeições se faz salada de cactos às tirinhas para se acompanhar com as restantes iguarias. Sempre tinha ouvido falar muito bem do Aloé Vera, mas deste eu desconhecia e pelos vistos faz bem a uma data de coisas. A vaca também gosta do cacto, contudo, nós damos-lhe as folhas que estão mais velhas e secas, aquelas que nós não comemos.

Da parte da manhã, voltei a estar com as crianças da família. Desta vez, estive a ensinar a fazer bordados. Dos que me lembrava da minha avó e mãe, ensinei o ponto a cheio, o meio-ponto e o ponto de cruz. Aprenderam super rápido. Estes miúdos são super espertos! J Depois foi a vez deles me ensinarem a mim e assim sendo, ensinaram-me a fazer umas estrelas em lã, com uns pauzinhos que apanharam da natureza. Ora vejam lá na foto do post de hoje se não estão lindas?! Comecei logo a pensar em decorar a minha árvore de Natal só assim! Giro, não?

Da parte da tarde, o patriarca da família pediu-me se eu podia dar uma ajuda a formatar um documento feito por ele e já outrora traduzido por uma portuguesa, sobre o estilo de vida, aqui da quinta. Claro que aceitei! Assim, a partir de agora as minhas tardes serão a formatar o documento e a traduzir uma parte que a tal portuguesa não chegou a traduzir. Claro que vou precisar do meu amigo Google Translate para esta situação, mas tudo se fará, de certo! O documento intitula-se: “Comer e viver naturalmente: sete regras para viver na Natureza com sucesso” e amanhã falarei melhor sobre ele!

E foi assim o meu dia... que finalizou numa surpresa. Ora estava eu toda lampeira a preparar para dormir a minha terceira noite ao relento, quando fui passear a minha cadela pelas redondezas. Ao sair do portão da quinta, vejo no chão uma cobrinha que achei que era um brinquedo daqueles de plástico que as crianças têm no dia-a-dia. Ontem por exemplo, quando estivemos a fazer desenhos, a criança de 7 anos copiou uma das lagartichas a olho e eu até lhe tirei uma foto, porque para 7 anos o desenho está fantástico. (Ora vejam na foto do post) Assim sendo, ao me deparar para a cobrinha no caminho achei que era mesmo um boneco desses de plástico, porque era mais ou menos do mesmo tamanho e não se mexia. Como estava a anoitecer, eu também não via muito bem, mas mesmo assim, com o meu chinelo dei um toque no rabo da cobrinha para me tirar de teimas... e voilá!!! Vi uma línguita a sair da cabeça... “Será que vi bem?” pensei eu. Peguei num pau comprido e toquei novamente na cobrinha... E vi, claro que vi bem. A bela da cobrinha fugiu devagarinho e eu fiquei a pensar que ontem tinha sido a minha última noite ao relento e que hoje seria a minha primeira noite num carro com pouco oxigénio, mas sem possibilidade de entrarem cobrinhas ou cobronas!... E também acho que não sei o suficiente para tocar a flauta cor-de-rosa que me deram, afim de enfeitiçar a cobra que possa vir a aparecer. (Eu sei... eu sei que a cobra era pequenina e tal... mas acho que no caso das cobras, a minha cadela é capaz de não dar conta se elas entrarem para dentro do meu saco cama, por isso, é melhor não fiar muito.)

E pronto... agora que finalizei o meu post de hoje, no interior no meu carro e às escuras, vou dormir neste “chão” bem duro, pois não tive tempo para encher o meu colchão de ar... talvez o encha amanhã!!!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dia picante

Depois da minha primeira noite ao relento, que é como quem diz, num quarto que está espalhado pela quinta, mas que tem cobertores e um colchão para uma noite confortável, acordei com energia para trabalhar. Ou então foi das frutas dos cactos que comi, os ditos figos da Índia. O que vale é que o dia foi bastante variado, mas também bastante fluído, ou seja, as coisas foram-se fazendo.

De manhã fui apanhar ervas para dar de comer à vaca, chamada Selenata (acho que é assim que se chama... sei apenas que o nome quer dizer a “nata” do leite em Alemão) e da mula, que não tem nome. Depois de apanharmos ervas suficientes para lhes dar de comer, foi vê-las muito satisfeitas a comer cheiinhas de vontade a comidinha que lhes tínhamos preparado. Segundo me explicaram, elas comem duas vezes ao dia e no caso da vaca, ela também é ordenhada 2 vezes ao dia, sendo que no total dá 10 litros de leite. Eu achei que era mesmo imenso, mas quando o patriarca da família me disse que as vacas leiteiras do leite que bebemos empacotado, dão 50 litros de leite, pensei que alguma coisa não estava a bater bem. “50 LITROSSSSSSSSSSSSSSSSS...?!?!?! Mas isso é imenso!”, exclamei eu. E ele explicou-me que o normal seriam os 10 litros por dia, mais do que isso, só dão esse leite as vacas cheias de hormonas para que possam dar mais e mais leite... Bem, fiquei preocupada!

Depois desta tarefa, foi altura de ir pintar com as crianças da quinta. Pelo que me disseram, elas pediram ao pai se eu podia ir pintar e desenhar com elas. Como elas não falam português e eu não falo alemão, a nossa brincadeira foi a modos que muda, mas que funcionou, funcionou muito bem! Elas abriram um livro de animais, escolhiam o animal, eu copiava o animal para uma folha de papel a lápis e elas coloriam com lápis de cor ou com aguarelas. As crianças que brincaram comigo tinham entre 7 a 12 anos e eu pensei que tinha de fazer uns desenhos fáceis, mas quando vi as pinturas delas, fiquei de boquiaberta, porque pintam verdadeiras obras de arte. E pelo que me mostraram, também pintam a óleo e tudo... e digo-vos são cheias de arte! J Durante a brincadeira fiz o desenho de algumas delas e depois pedi para elas fazerem também a minha cara. A menina de 7 anos fez o meu desenho a lápis de cor azul (achei piada à cor) e a mais velha de 15 anos fez o desenho que está aqui no post. E digam lá que não está lindo?!

Da parte da tarde, depois do almoço e depois da sesta, fomos apanhar malaguetas... digo, imensas malaguetas... que depois de cortadas aos bocadinhos, à mão e à máquina à manivela, se colocou muito sal e se fechou em frascos para conservar. Segundo me foi explicado, depois de uns tempos podemos escorrer o líquido das malaguetas e juntando vinagre dá o tão desejado por alguns, Tabasco.

Depois desta tarefa, e depois de lavar milhentas mil vezes as mãos com água e sabão azul e branco, tenho-vos a dizer que toda eu estava picante... ora se passava as mãos pela cara, ficava a arder, as próprias mãos estavam a arder e como ainda por cima fiz uma ferida num dedo, com as malaguetas, acho que foi remédio santo: desinfecção perfeita! É assim a vida...

A vida aqui corre devagar... digo, anda devagar... mas de qualquer das formas, o dia pareceu que decorreu muito rápido... por outro lado, também se foi passando como se estivesse tudo perfeitamente coordenado e planificado.

E pronto, há ilhas e ilhas... http://www.youtube.com/watch?v=oQjX19ZPbDY

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Comunidade 9 - Ilha Paraíso

Na Serra do Marvão, perto de Castelo de Vide, vive a 9.ª comunidade com quem escolhi viver uma semana à troca. Habituados a receber visitantes, sobretudo estrangeiros, sou eu que agora vou experienciar esta semana com diversos desafios, que talvez ainda não tenha experimentado em nenhuma das outras 8 comunidades onde já vivi.


Nesta comunidade, vive uma família, constituída pelo pai, 3 filhos e 6 filhas e um rapaz que não sendo da família ajuda nas lides da quinta. A família de origem alemã mudou-se há mais de 20 anos para Portugal, onde agora reside.

Escolhi esta comunidade por 3 motivos: são quase totalmente sustentáveis, são totalmente crudíveros e dormem ao relento, ou seja, sem ser dentro de uma casa.

...

Cheguei, o tempo está óptimo... nem muito calor nem muito frio. Almocei com a família e comi coisas super diferentes para mim: cactos às tirinhas, salada de batata, pão cru secado ao sol, entre outras coisas, que essas já são minhas conhecidas, como a bela da salada de tomate e a salada de pepino.

Depois do almoço, fui com o patriarca da família conhecer o espaço da quinta: vários quartos espalhados pelo espaço, a casa onde são feitas muitas das coisas que se comem (azeite, queijo, vegetais lacteo-salgados, vinho, entre outros), o sistema de duche e as casas-de-banho, o espaço das refeições com o palco de música, a zona da mula e da vaca, entre outras coisas. Perto da quinta, a menos de 400 metros, existe uma casa que a família também põe ao dispor para pessoas que não queiram viver ao relento e que necessitem das comodidades de uma casa “normal”, com cozinha, casa-de-banho, quarto, sala, etc.

De tarefas, hoje aprendi a fazer os tais vegetais lacteo-salgados, que neste caso foram feitos com feijão verde cortado ao pedacinhos e depois com muito sal, colocados em frascos bem selados para que o sabor vá amadurecendo à medida que os anos passam, sendo conservados com o líquido do próprio feijão verde. Segundo o patriarca, que me ensinou a fazer isto, ele diz que esta conserva pode durar mais de 10 anos e pode fazer-se com muitos vegetais diferentes.

No fim do dia, dei de comer às galinhas, ou seja, ralei um bocado de courgette e deitei no chão, onde felizes e contentes foram logo depenicar as tirinhas das cougettes. É importante dizer que as galinhas e galos andam sempre à solta. Sempre!!! São muito lindas... lindas mesmo! Têm umas penas lindas, coloridas e sedosas, como eu nunca vi. Há aqui um galo, que parece mesmo um galo de revista, tem um brilho que nem dá para explicar, lindo mesmo! Por causa desta situação, a minha cadela vai ter de ficar perto do local onde vou dormir, porque como já vos expliquei num anterior post a relação da minha cadela com as galinhas não é de longe das melhores. Foi engraçado ver ao final do dia, à hora do pôr-do-sol, quando as galinhas começaram a subir às árvores para dormirem. Nunca tinha visto galinhas a dormir nas árvores e digo-vos que é mesmo muito engraçado! Parecem pássaros gigantes a pernoitarem nos troncos!

Ao jantar, comi um wrap de couve. Eu explico, numa folha de couve coloquei tudo o que quis: tomate, pepino, manjericão, cebola, cenoura e depois enrolei tudo e fiz um wrap! Muito bom! Para sobremesa, comi uns frutos roxos e outros amarelos, dos cactos espalhados pela quinta. Aliás, esta quinta o que tem mais é cactos. E os frutos são deliciosos. Devem contudo, comer-se com garfo e colher para que os picos externos não nos piquem em parte nenhuma. E bem, eu bem que fui avisada, mas tive logo a minha praxe de caloira e fiquei com dois picos na boca: um no céu da boca e outro na língua. Eheheheh... só visto! Contudo, rapidamente os picos saíram e eu pude ir descansar para o meu quarto ao relento...

Bem, será a minha primeira noite ao relento, contudo, o facto de trazer a Azeitona, conforta-me porque seguramente ela dará sinal se algum bicho que se aproximar... Já me falaram que há raposas, torrões e outros bichos que não conheço e prefiro não conhecer pessoalmente, para ter uma noite descansada! Mas também já sei que posso "pedir" ajuda a uma hora qualquer da noite, se algo me acontecer... ou se aparecer algum bicho menos desejado. Por isso, entregaram-me uma flauta cor-de-rosa com um livrinho de música, assim, posso aprender a tocar ou então, apitar na flauta a alto e bom som, se algum animal desconhecido se aproximar do local da minha dormida... :)

Bem... se quiserem saber mais onde estou e por onde ando, aproveitem e vejam a reportagem que fizeram há uns anos a esta família, constituída por 2 partes! J


domingo, 26 de agosto de 2012

“Há pessoas que amam o poder e outras, que têm o poder de amar.”


Pois é, já saí da 8.ª comunidade onde o Reggae era a alma "da coisa", e por isso, de tão bom que foi, fiquei muito curiosa e pedi para me emprestarem algumas revistas sobre o Rastafari ou seja, o Rastafarianismo.

Aqui vai, para vossa e minha informação:

“Ras Tafari (que significa Principe da Paz) foi um Imperador, de seu nome, Haile Selassie I da Etiópia que deu origem ao Movimento Rastafari. Ou seja, os Rastas, seguidores de Rastafari, visam construir um mundo de verdadeira irmandade, entre humanos de todas as raças, cores ou credos e também de harmonia com os animais e plantas, que são semelhantes, uma vez que todos estão ligados por um elo comum: a Natureza. Rastafari não é uma religião, mas sim uma ideologia, ou cultura espiritual, uma cultura de vida e de espírito e não uma disciplina regrada acerca de como devemos compreender o mundo e nos relacionarmos com ele. É apenas um regresso às nossas origens, ao modo de vida dos nossos antepassados, que levavam uma vida com harmonia e cooperação com a Natureza. Um verdadeiro rasta, pratica o bem, uma vida justa e de compaixão por todos os seres e uma luta pela justiça social e igualdade.” (Retirei este texto da revista n.º 6 “Ras Reggae – Raízes e Cultura”, uma revista editada em Portugal no final dos anos noventa)

Um dos seguidores mais conhecidos do Rastafarianismo foi Bob Marley, que através da sua música partilhava os princípios de ser Rastafari. Muitas são as frases que se conhecem de Bob Marley, sendo dele a frase de título do post de hoje.

Acho que sempre tive um fundinho de rastafari no fundo, no fundo... sou capaz até de dizer, como um amigo meu: “Eu sou assim por fora, mas sou Reggae no coração.” E é isso... Se ser-se rasta é acreditar num mundo de paz e amor, que todos somos iguais, acreditando na justiça num mundo melhor, sim, eu sou rasta por dentro, por fora e por todo o lado. Pelo menos uma vez na minha vida, fui ainda mais rasta. J No meu segundo casamento, as músicas que acompanharam o brinde e o partir do bolo foram Bob Marley... J E ele dizia: “Is this love”!

http://www.youtube.com/watch?v=UyyAf45bCRE

P.S. A primeira foto deste post foi tirada num dos sinais a caminho da 8a comunidade e a segunda foto é um artigo da revista que atrás mencionei, de onde tirei esta fotografia.