quarta-feira, 28 de março de 2012

Receber...

...e dar! As duas componentes da vida!

Para mim, sempre foi muito fácil DAR... Dar era uma constante na minha vida, de criança, de adolescente e de adulto baseada nas minhas aprendizagens familiares! A minha família é uma família de dar! Ou dar comida, ou dar prendas, ou dinheiro, ou ajudar alguém, ou disponibilizar a casa, ou... enfim: DAR!

O meu avô por exemplo era o mestre de dar! Ele dava tudo: pagava aos empregados que apanhavam as cerejas a dobrar, pagava as contas a todas as pessoas que estivessem dentro do café, distribuía caixotes de cerejas pela aldeia, distribuia toda a sua reforma aos filhos e à neta.. dar... sempre dar! E então aprendi que dar era o valor maior da vida! Dar... dar... dar!

Na minha adolescência, senti que tinha de ser útil e dar. Então com um grupo de amigos, fundámos uma conferência vicentina, que tinha o nome de Conferência Vicentina de Jovens de São Gens. E desde logo, começámos, através do dinheiro que angariávamos nos nossos eventos, a ajudar a população mais carenciada da cidade. Desde cedo me habituei a levar comida aos mais pobre, a cantar no lar de idosos, a fazer teatro nas paróquias, a animar a malta mais desmotivada com a vida, a pagar as contas em atraso de famílias numerosas, a levar fraldas a adultos com necessidades especiais... enfim, dar, sempre dar!

E isto foi MAU! Muito mau! Porque o hábito de dar, por muito grandioso que seja, é prejudicial quando damos de mais... a mais... sempre mais! Porque se torna um vício e não um valor! Porque nos corre no sangue como uma necessidade à nossa vida e não como benção que temos nas mãos!... E foi nesta minha vida que nunca aprendi a receber. Receber uma oferta de alguém, um jantar pago só porque sim, um elogio sincero, um abraço, um "gosto de ti", amor por puro amor, a casa de um amigo para passar férias, enfim... uma panóplia de coisas tão simples, mas tão importantes, como o facto de receber!

Por exemplo, demorei 30 anos a saber aceitar/receber um abraço. Lembro-me que o meu primeiro abraço (digo, verdadeiro abraço e sentido realmente como tal) foi de um colega meu de trabalho, que tinha o dom de abraçar! Lembro-me do sítio, da situação, da hora... foi numa despedida, em que ele ia trabalhar para outro país. Deu um abraço a todos os colegas e eu fiquei desconfortável. Desconfortável, como quando recebia um elogio ou um "gosto de ti"... Aceitar o abraço era díficilllllllllllllll...

O tempo foi passando... as experiências foram chegando... a aprendizagem entrando devargazinho no meu coração, de que é muito mais grandioso receber de forma grata, humilde e sincera, do que dar!

É neste projecto, que começo a aceitar que o receber, não pressupõe uma "hierarquia" mais inferior, ou uma necessidade "real"... Receber faz parte da vida, tal e qual, como o dar... o olhar, o sentir, o cheirar, o amar! E para amar, temos sempre que receber, para que amemos de verdade e para que possa valer a pena!

Díficil.... mas estou a aprender!

http://www.youtube.com/watch?v=D9U0FZlX2EM&feature=related

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