domingo, 11 de março de 2012

Jantar comunitário trocado

Foto by Ester Mestre
Já lá vai o tempo em que quando convidava amigos gastava uma pipa de massa a preparar o jantar minuciosamente com tudo de bom e do melhor. Não é que tenha deixado de receber os meus amigos da melhor forma possível, mas os tempos de trocas actuais não me dão azo a gastar dinheiro nas compras do supermercado para iguarias como lasanha de marisco por ex., que adoro!

Na minha família, o hábito de receber bem os amigos ou a família é quase uma tradição: comprar tudo do bom e do melhor, fazer comida até abarrotarmos, tentar que a comida seja sempre do agrado dos convidados e fazer muitas iguarias variadas. Eu também era/fui assim. Primeiro porque os meus avós eram assim, depois os meus pais eram assim, depois a família do meu primeiro marido era assim e a família do segundo também era assim. Lembro-me do perú enorme de casca estaladiça da minha avó no Natal, que sobrava sempre mais de metade para o resto dos dias seguintes... os bolinhos de amêndoa do Algarve (os meus doces favoritos) da minha outra avó... o bacalhau com brôa da minha madrasta... a mesa da cozinha posta 24 horas por dia na casa dos pais do meu primeiro marido... e os maravilhosos camarões com picante da minha última sogra!... Bem, até abre o apetite!!!

Estas e outras experiências foram ficando marcadas como certezas exactas, de que para recebermos amigos tem de ser com "o melhor bom". E que tem de se gastar um dinheirão, para não ficar com a sensação de "não ficar atrás"... mas, atrás com quê?! Bem, parvoíces egóicas!

Com esta coisa das trocas, tudo mudou. E eu descobri que é muito mais fácil dar (um almoço aos amigos gastando um dinheirão, por exemplo) do que ter a humildade de aceitar! Se formos a ver, quantas pessoas dizem que dão roupa aos pobres, comida ao banco alimentar, etc, mas depois não conseguem admitir ou aceitar algo usado ou uma ajuda de alguém que pura e simplesmente dá?!

Outra dia uma pessoa disse-me ia comprar uma máquina de lavar roupa. Eu disse para não comprar, para usar o grupo do Troco 1 hora. E ela respondeu-me: "Mas eu não quero trocar. Eu não troco. Quando é assim, dou."... E eu fiquei a pensar naquilo... como é díficil por vezes, aceitar! Já agora conto-vos outra história. Aqui há tempos uma pessoa fez-me um serviço doméstico à troca de comida que eu tinha a mais. E quando combinei com ela para entregar a comida, disse-me que não podia ser ao pé da casa dela, porque não queria que a vizinhança visse.... e pergunto eu: "Alguém tem alguma coisa a ver com isso?! Independentemente de se precisar ou não?!" Acho que a pior pobreza, é a envergonhada... e a pior qualidade é a dificuldade de aceitar... porque aceitar parece que dá a entender que "ficamos inferiores a quem dá." Eu também fui assim... eu tinha de ser sempre a melhor a receber os amigos, a melhor a dar prendas, a melhor a fazer surpresas ou a gastar mais dinheiro com os outros... só mais tarde percebi, que isso não era díficil, o mais díficil era ser humilde e aceitar. (Nem que seja um abraço forte!)

Ontem, fiz um jantar cá em casa com alguns "belivadores". A condição era cada um trazer um ingrediente para fazermos uma massa. Eu dava a massa, a água, o azeite, o fogão... (lolol) e eles o conduto. E assim foi, com a boa vontade de todos fizemos a bela "sparguettada" que vêem na foto com cogumelhos, azeitonas, atum, salsa e caril. Montes de sobremesas... e eu ainda tive direito a papel higiénico, sementes chia, bolachas de soja, aipo, queijadas de Castro Verde e pão caseiro.

Na minha humildade, que felizmente é cada vez maior, aceitei, fiquei feliz, diverti-me a noite toda entre risadas e "maluqueiras saudáveis" e ainda recebi esta musiquinha: http://www.youtube.com/watch?v=ADmsRgDkdO8

É tão bom trocar... ;)

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